quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Estação de Tratamento do Guandu fornece água para 9 milhões de pessoas

Administrada pela Nova CEDAE, maior estação de tratamento de água do mundo fica próxima a Seropédica e abastece grande parte da Região Metropolitana do Rio

Por Gian Cornachini


ETA Guandu produz 43 mil litros de água tratada por segundo, recorde mundial. (Foto: Gian Cornachini)


Certificada pelo Guinness Book, o “Livro dos Recordes”, como a maior estação de tratamento (ETA) de água potável no mundo em produção contínua, a ETA Guandu, administrada pela Nova CEDAE, fornece 46 mil litros de água por segundo para mais de 9 milhões de pessoas na Região Metropolitana do Rio. Instalada na localidade conhecida como Km 32 da BR 465, antiga estrada Rio-SP, em Nova Iguaçu, a estação de tratamento capta água do rio Guandu, principal manancial da região.

Com o crescimento do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense, e com a poluição dos rios que abasteciam as cidades no século passado, o governo do estado precisou buscar novas alternativas para abastecer o Grande Rio. Na década de 50, partes dos rio Paraíba do Sul e Piraí foram transpostas para a bacia do rio Guandu, que corta as cidades de Piraí, Paracambi, Seropédica, Nova Iguaçu e Rio de Janeiro. Com a obra, o Guandu tornou-se uma fonte volumosa e apta para captação de água. Entre 1952 e 1982, a ETA Guandu foi construída, adaptada e aumentada para poder abastecer mais de 80% do Rio de Janeiro, toda a cidade de Nilópolis e grande parte dos municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo e Itaguaí.

O local escolhido para construir a ETA foi estratégico, como explica Leonel Fagundes de Assis, chefe do Departamento de Tratamento e Centro de Qualidade da estação de tratamento: “Era preciso construir a ETA em um local próximo à captação de água do rio e que pudesse fazer o abastecimento das cidades com facilidade”, conta Leonel. “Com a construção de um reservatório de água no morro do Marapicu, conseguimos levar água por grande parte do Grande Rio sem a necessidade de bombeamento e gastos com energia elétrica, usando apenas a força natural da gravidade”, revela. O morro do Marapicu fica ao lado da ETA Guandu e aloja em seu interior um reservatório com capacidade para 20 milhões de litros de água.

Desperdício

"A CEDAE está constantemente buscando conscientizar a
população sobre o uso correto da água" – Leonel
Fagundes de Assis. (Foto: Gian Cornachini)
Um dado que preocupa a CEDAE é a quantidade de água considerada como “desperdício”. Cerca de 35% a 40% de toda a água fornecida pela estação de tratamento é perdida. Segundo Leonel, as principais causas são os “gatos” e o desperdício de residências que não têm hidrômetros: “Em muitos lugares ainda existe a cobrança de água pela quantidade de cômodos que tem na escritura da casa. Além de muitas vezes a casa ser bem maior do que está na escritura, as pessoas aproveitam o preço fixo da tarifa e desperdiçam muita água”, afirma ele. “É por isso que a CEDAE está constantemente buscando conscientizar a população sobre o uso correto da água, que será cada vez mais escassa no futuro”, conclui.


Galeria de Imagens

ETA foi construída às margens da BR 465, a antiga Rio-SP, a 17 quilômetros de Seropédica. (Foto: Gian Cornachini)

Captação da água é feita no rio Guandu, na divisa de Nova Iguaçu com Seropédica. (Imagem: Google Mapas)



















Imagem feita por satélite da estação de tratamento de água, localizada no Km 32 da Rio-SP. (Fonte: Google Mapas)
Quadro exposto na secretaria da gerência da ETA Guandu exibe recorde no 'Guinness Book'. (Foto: Gian Cornachini)

Centenas de peixes morrem em lago da Universidade Rural

Água estava com baixa quantidade de oxigênio devido a despejo de esgoto no lago

Por Gian Cornachini

Pequenas peixes mortos da espécie 'tilápia' boiam em água escura e suja. (Foto: Gian Cornachini)

Quem visitou o lago Açu da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica, na primeira semana de setembro, deparou-se com um fato atípico: centenas de peixes mortos boiavam próximo às margens do lago. De acordo com pesquisadores da instituição de ensino, a água passou por uma eutrofização, o que causou a mortandade. Há indícios de que o fenômeno tenha acontecido após meses de despejo de esgoto no lago.

No dia 6 de setembro, mais de 400 peixes mortos podiam ser contabilizados com uma volta no lago Açu. Segundo Francisco Gerson, professor responsável pelo Laboratório de Ecologia de Peixes da UFRRJ, o caso é uma novidade: “Nunca aconteceu algo assim, com essa intensidade. E de repente, de um dia para o outro, um monte de peixe morto na superfície?”, questionou o professor. Para ele, a explicação é uma só: “Entrou esgoto e entrou muito. Para ter essa eutrofização, só pode ter sido isso”, afirmou.

Professor acredita que o lago recebeu grande quantidade
de esgoto. (Foto: Gian Cornachini)
A eutrofização é um fenômeno que acontece quando há excesso de nutrientes na água. Quando um lago recebe grande quantidade de esgoto, microalgas se proliferam. Mas elas duram poucos dias, e as bactérias presentes na água entram em ação para decompor essa matéria orgânica, consumindo todo o oxigênio possível. “O nível de oxigênio na água estava em duas miligramas por litro. O normal são oito miligramas”, explicou o professor. “Até os cascudos, que são peixes muito resistentes, estavam quase saindo do lago para buscar oxigênio”, contou.

Gérlia Maria de Carvalho Machado, prefeita do campus da UFRRJ, encomendou uma análise dá água para tentar entender o que que aconteceu. A microbiologista Rosa Helena Luchese, responsável pelo estudo, entregou o resultado ontem (17). Rosa confirmou a eutrofização ocorrida no lago: “Verifiquei que há índices de matéria orgânica na água maior do que deveria”, afirmou a microbiologista.

Bolhas e matéria viscosa na superfície da água caracterizam a eutrofização do lago proveniente da
decomposição das microalgas. (Foto: Gian Cornachini)

A prefeita do campus revelou que foi despejado esgoto no lago por alguns meses: “Há um esgoto indevido que corre de casas do Instituto de Florestas (IF) para as manilhas de águas fluviais. Essas tubulações estavam entupidas e foram feitas obras para desobstruí-las”, explicou Gérlia. “Durante as obras, esse esgoto estava indo para o lago, mas agora esse sistema já está desobstruído. O que vamos investigar é se ele está funcionando corretamente ou se há vazamento”, propôs ela.

Apesar de a obra ter sido finalizada semanas antes da mortandade de peixes, a eutrofização da água aconteceu tempo depois de, teoricamente, parar de entrar esgoto no lago. De acordo com Gerson, o fenômeno acontece em condições climáticas favoráveis. O sol forte, o aumento da temperatura e o tempo calmo, sem vento, contribuíram para a expansão das microalgas, que se alimentaram com os nutrientes do esgoto despejado por muitos meses: “Agora o lago já melhorou com a amenização da temperatura e com o vento. A água está mais oxigenada e voltando a sua condição natural”, relatou o professor. Apesar disso, ele não tem dúvidas do que pode acontecer caso o problema não seja corrigido: “Se continuar entrando esgoto, será um perigo. Vai ter outras mortalidades. Por isso, eu acho que a única preocupação que devem ter é saber se tem essa entrada de esgoto e dar logo um jeito nisso”, cobrou o professor.


Galeria de Imagens

Peixes grandes, como a 'carpa cabeçuda', estavam entre as espécies que morreram. (Foto: Gian Cornachini)

Outros peixes maiores, como 'Tilápias' em fase adulta também compunham o cenário de morte no lago. (Foto: Gian Cornachini)
A 'tilápia' é a espécie dominante no lago, e em toda a margem era possível encontrar centenas dela. (Foto: Gian Cornachini)
Matéria viscosa na superfície do lago é um sinal de poluição da água por esgoto. (Foto: Gian Cornachini)
Até os peixes mais resistentes, como o 'cascudo', não resistiram ao baixo nível de oxigênio da água. (Foto: Gian Cornachini)