quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Centenas de peixes morrem em lago da Universidade Rural

Água estava com baixa quantidade de oxigênio devido a despejo de esgoto no lago

Por Gian Cornachini

Pequenas peixes mortos da espécie 'tilápia' boiam em água escura e suja. (Foto: Gian Cornachini)

Quem visitou o lago Açu da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica, na primeira semana de setembro, deparou-se com um fato atípico: centenas de peixes mortos boiavam próximo às margens do lago. De acordo com pesquisadores da instituição de ensino, a água passou por uma eutrofização, o que causou a mortandade. Há indícios de que o fenômeno tenha acontecido após meses de despejo de esgoto no lago.

No dia 6 de setembro, mais de 400 peixes mortos podiam ser contabilizados com uma volta no lago Açu. Segundo Francisco Gerson, professor responsável pelo Laboratório de Ecologia de Peixes da UFRRJ, o caso é uma novidade: “Nunca aconteceu algo assim, com essa intensidade. E de repente, de um dia para o outro, um monte de peixe morto na superfície?”, questionou o professor. Para ele, a explicação é uma só: “Entrou esgoto e entrou muito. Para ter essa eutrofização, só pode ter sido isso”, afirmou.

Professor acredita que o lago recebeu grande quantidade
de esgoto. (Foto: Gian Cornachini)
A eutrofização é um fenômeno que acontece quando há excesso de nutrientes na água. Quando um lago recebe grande quantidade de esgoto, microalgas se proliferam. Mas elas duram poucos dias, e as bactérias presentes na água entram em ação para decompor essa matéria orgânica, consumindo todo o oxigênio possível. “O nível de oxigênio na água estava em duas miligramas por litro. O normal são oito miligramas”, explicou o professor. “Até os cascudos, que são peixes muito resistentes, estavam quase saindo do lago para buscar oxigênio”, contou.

Gérlia Maria de Carvalho Machado, prefeita do campus da UFRRJ, encomendou uma análise dá água para tentar entender o que que aconteceu. A microbiologista Rosa Helena Luchese, responsável pelo estudo, entregou o resultado ontem (17). Rosa confirmou a eutrofização ocorrida no lago: “Verifiquei que há índices de matéria orgânica na água maior do que deveria”, afirmou a microbiologista.

Bolhas e matéria viscosa na superfície da água caracterizam a eutrofização do lago proveniente da
decomposição das microalgas. (Foto: Gian Cornachini)

A prefeita do campus revelou que foi despejado esgoto no lago por alguns meses: “Há um esgoto indevido que corre de casas do Instituto de Florestas (IF) para as manilhas de águas fluviais. Essas tubulações estavam entupidas e foram feitas obras para desobstruí-las”, explicou Gérlia. “Durante as obras, esse esgoto estava indo para o lago, mas agora esse sistema já está desobstruído. O que vamos investigar é se ele está funcionando corretamente ou se há vazamento”, propôs ela.

Apesar de a obra ter sido finalizada semanas antes da mortandade de peixes, a eutrofização da água aconteceu tempo depois de, teoricamente, parar de entrar esgoto no lago. De acordo com Gerson, o fenômeno acontece em condições climáticas favoráveis. O sol forte, o aumento da temperatura e o tempo calmo, sem vento, contribuíram para a expansão das microalgas, que se alimentaram com os nutrientes do esgoto despejado por muitos meses: “Agora o lago já melhorou com a amenização da temperatura e com o vento. A água está mais oxigenada e voltando a sua condição natural”, relatou o professor. Apesar disso, ele não tem dúvidas do que pode acontecer caso o problema não seja corrigido: “Se continuar entrando esgoto, será um perigo. Vai ter outras mortalidades. Por isso, eu acho que a única preocupação que devem ter é saber se tem essa entrada de esgoto e dar logo um jeito nisso”, cobrou o professor.


Galeria de Imagens

Peixes grandes, como a 'carpa cabeçuda', estavam entre as espécies que morreram. (Foto: Gian Cornachini)

Outros peixes maiores, como 'Tilápias' em fase adulta também compunham o cenário de morte no lago. (Foto: Gian Cornachini)
A 'tilápia' é a espécie dominante no lago, e em toda a margem era possível encontrar centenas dela. (Foto: Gian Cornachini)
Matéria viscosa na superfície do lago é um sinal de poluição da água por esgoto. (Foto: Gian Cornachini)
Até os peixes mais resistentes, como o 'cascudo', não resistiram ao baixo nível de oxigênio da água. (Foto: Gian Cornachini)

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